Ao virar da esquina, horas antes, o almofariz gigante e amarelo, comandado pelas mãos invisíveis de uma política de interesses, esmagou tudo o que fosse. Esmagou a vida da Ana e a do marido, que viram paredes e telhados e tijolos a cair nos pratos em que comiam, a sentar na mesa da sala de jantar, a dormir nos seus lençóis.
Virei a esquina e vi a Ana. E para lá dá Ana, os escombros habitavam descansadamente pelos seus móveis escondidos, enquanto tudo acontecia como todos os dias, para lá do quarteirão ao lado. E a Ana, com um sorriso, e dizendo para não sujarmos a roupa, disse que ali no quarto ou sala ou algures no meio, estava o saco que tinha o arroz. E era só isso, o resto já não tinha remédio nem interesse. Mas o arroz, dava jeito.
por Ana Feijão